Uma das coisas mais excitantes em relação à música pesada moderna é, sem dúvida, a nova vida que foi soprada no movimento do metal progressivo durante a última década e meia. Desde a viragem para o novo milénio, assistiu-se a um aumento consistente na produção de propostas muito interessantes dentro do género, que agora também tem raízes no rock alternativo dos anos 90 em vez de se centrar única e exclusivamente na década de 70, época em que surgiram muitas das pedras basilares do prog e que, ainda hoje, quase quatro décadas depois, continua a ser vista como a época dourada desta tendência. A nova geração tem revelado ao mundo inúmeros músicos que, apesar de continuarem a apreciar e a respeitar o rock progressivo clássico, pretendem emancipar-se dos progenitores e deixar uma marca sua numa onda criativa que há muito tinha parado efetivamente de progredir. Ao invés do que se passou durante grande parte dos anos 80 e 90, o metal/rock progressivo é hoje um movimento diversificado e relevante, feito de bandas com personalidades bem fortes e sonoridades tão distintas quanto se possa imaginar.
É complicado encontrar um melhor exemplo da vitalidade do prog atual que os SOEN, liderados pelo versátil Martin Lopez, ex-baterista dos icónicos Opeth e Amon Amarth. Com apenas dois lançamentos no currículo, são já vistos como uma das maiores revelações dos últimos anos neste espectro e, após a estreia em Portugal há três anos como convidados especiais dos Paradise Lost na Tragic Idol Tour, regressam finalmente ao nosso país para um muito aguardado primeiro concerto em nome próprio. O coletivo, que conta também com Joel Ekelöf, dos Willowtree, na sua formação, vai subir ao palco do RCA Club, em Lisboa, para um concerto único, no dia 15 de Outubro, com o recente «Tellurian» a servir de mote a mais uma atuação que se espera, à semelhança das que protagonizaram em 2012, tão envolvente quanto intrigante. Uma noite altamente recomendada a fãs de Pain of Salvation, Tool, Leprous, Steven Wilson, Riverside e, claro, Opeth.
Com o lançamento de «Cognitive», o álbum de estreia de 2012, os SOEN foram descritos como a fusão perfeita entre o peso virtuoso dos Opeth e a melancolia cerebral dos Tool, mas o grupo já provou ser muito mais que apenas isso. «Tellurian», editado a 4 de Novembro do ano passado, é o segundo longa-duração do quarteto – que já contou com o lendário Steve DiGiorgio na formação e hoje é composto por Lopez na bateria, Joel Ekelöf na voz, Joakim Platbarzdis na guitarra e Stefan Stenberg no baixo – e desfaz quaisquer dúvidas que pudessem restar em relação ao engenho que os caracteriza. Esta é uma banda pouco interessada no que é simples, vazio ou demasiado óbvio. Canções como «Tabula Rasa» e «Pluton» provam que a viagem musical destes suecos opta por um caminho bastante mais ambicioso e o resultado é um corpo de trabalho expansivo, que nunca para de desafiar – sem ser inteligente só “porque sim” e sem nunca se tornar difícil de apreciar. As melodias são intrincadas, as prestações dos músicos são musculadas e as melodias são contagiantes, ficando no ar a clara sensação de estarmos perante o caso raro de um projeto cuja intenção está muito mais em sintonia com o tipo de valores fundamentais da música progressiva – a musicalidade qualificada, a emoção na precisão, a importância da capa de um álbum – do que a de muitos dos seus competidores.
Os bilhetes para o concerto custam 15€, à venda nos locais habituais. Reservas: Ticketline (1820 – https://